quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A meretriz dos impotentes

      Sempre a espreita de uma oportunidade, ela sussurra em meu ouvido. Violenta e vulgar, estraçalha minhas emoções e me deixa aberta minhas feridas. Sua rouquidão é agonizante, quando a escuto, me sinto pálido, inócuo, impotente. Ela nunca deixa espaço para argumentações, rude e fria, me joga todos os malfeitos e expurga o que há de humano em mim. Meu empirismo já não é confiável, meus sentidos se invertem, eu escuto com os olhos e vejo pelos ouvidos. E sempre a mesma imagem me vindo a tona "você não tem coração", "você não é digno", "você não é nada". E vulgarmente, ela se oferece, como se não houvesse outra escolha, sinto o beijo gélido, meu rosto branco, os olhos opacos. A sensação de ter alguém perfurando suas entranhas com agulhas, lentamente, mas o vermelho não combina com a decoração. Lutar contra sua essência por sua existência, talvez eu nunca tinha percebido que os dois eram antagônicos entre eles. Se existir é se inibir, tornar-me-ei inexistente, aceito sua condição, então faleço-me por dentro, e somente existo por fora. Por ora, deixe-me partir, não quero ouvir suas desculpas e nem seu sorriso disfarçado, sua ganância me deixa enojado, atira-se em qualquer frágil que lhe dar ouvidos. Opinarei pelos meus laços, mesmos eles amarrados no meu pescoço, confiarei em cada um, e só lhe darei ouvidos quando eu tiver a certeza que todos eles estão suficientemente distantes para me sufocar. Até lá, retire-se de trás da porta, pois vou deixar-lá sempre aberta para o outro lado.