quarta-feira, 2 de maio de 2012

Por uma nova concepção


Adentrei profundamente em análises e questionamentos inquietantes sobre a realidade e o modo que a interpreto, tive que entrar nas concepções de Marx, Engles, Durkheim, Platão e Heiddeger para que finalmente tivesse uma visão mais ampla dos acontecimentos externos e internos. Mantive-me em cativeiro até completar meu ciclo conflituoso para expô-lo da maneira mais clara possível, pois acredito que o(a) leitor(a) irá se identificar e se sentir instigado(a) a pensar e criticar o meu posicionamento. Enfim, pude gritar "eureka", acabei de descobrir de forma mais coesa no que se baseia a sociedade, os reflexos causados por essa base dentro do mundo essencial (ou mundo das ideias) e o que quais as ações que os indivíduos tomam ao adquirir consciência desses problemas.
O primeiro questionamento que fiz foi em relação dos reflexos da nova realidade sobre meus laços afetivos. O grande temor era de torná-los superficiais, e gradativamente, desvanecidos pela situação. Como então manter o processo construtivo dos meus laços? Quais são os fatores que dificultam a interação? Como resolver isso? Bem, primeiramente, tive que entrar em uma análise de viés positivista, o pensamento Durkeiminiano do fato social coercitivo, e outra Marxista, a adesão da ideologia opressora e seus reflexos dentro do modo de vida dos indivíduos. Nota-se a necessidade das pessoas realizarem suas obrigações para alcançar seus objetivos, expostas a rotinas enfadonhas, tornando o convívio social pragmático. Eu fui testemunha disso, era como ter um temor de mim mesmo, olhava-me no espelho e me oprimia, sentia-me sufocado, não tinha tempo de pensar sobre o que estava acontecendo internamente, eu apenas via as pessoas colocando seus problemas atrás das suas máscaras, é como se elas começassem a pregar em seus rostos, e que a cada dia que passava, ficava mais difícil retirar isso. E quando notei, eu também estava com a minha máscara, mais densa, mais forte, como se ela quisesse retirar a minha humanidade e consciência. Cheguei ao limite de me sentir vazio, uma besta cheia de informações e quase nada de sentimentos, e das vezes que tentei retira-lá sozinho foi extremamente frustrante, pensei que fosse aceitar aquilo tudo e deixar aquilo me consumir. Foi quando estive bem perto de perder alguém existencialmente, todos aqueles sentimentos “extraviados” foram surgindo de uma vez, dor e indignação, chorava tanto por ser impotente, de ver por um fio toda a construção que fiz a ser demolida. E a culpa foi de quem? Minha? Dessa pessoa? Não, foi de toda uma coercitividade, estávamos tentando atender da melhor maneira o modelo, de não sentir para produzir. Tínhamos em mente a individualidade e o egoísmo, que sempre nos é estampado, “independência financeira, alto nível de intelectualidade, VENÇA NA VIDA”. No mesmo dia, chegamos às conclusões que não era possível negar a própria essência, somente cativar o que já estava construído, naquele momento, senti-me revigorado, com ódio e uma vontade imensa de priorizar as pessoas e viver na simplicidade.
 Foi quando eu percebi que a superficialidade começava a invadir meus relacionamentos e pensamentos, sinto-me tão oprimido por essa ideologia dominante por essas necessidades insanas de se submeter ao sistema, por que eu tenho que aceitar essas condições se o que mais valorizo na vida não se vincula e nem se assemelha a essa ideologia? Quem decidiu as importâncias? Fiquei tão sufocado que me rendi às superficialidades, que era a única coisa que poderia viver em um curto período de tempo. Foi quando senti uma sensação estranha nos meus laços, ao mesmo tempo em que eles se apertavam, ficavam mais finos, ou seja, eu sentia a vontade de cada um de permanecer unido e também sentia a superficialidade criando espaços mais fortes. Isso era tão absurdo de se pensar pelo medo de tê-los por conveniência ou somente pelo tempo que construí aquele laço. Consegue enxergar, Leitor(a)? À medida que você entra na idade produtiva a cobrança por está nela é muito maior, a pressão de todos para que você construa algo sólido e rentável lhe dá uma sensação de obrigação, para que não pense em coisas que não lhe tragam algum resultado “útil”. Olhe o tanto de reflexos, de como esquecemos nossas vontades e aderimos outra que é refém de um capital, seja ele cultural, ou econômico.
Todos esses conflitos me deram uma profunda reflexão e necessidade para uma nova concepção do meu ser, dos meus laços e da sociedade no qual estou inserido. Toda essa estrutura se baseia no equilibro dos antagonismos entre eles, ou seja, o meu ser, que deseja existir de forma livre e intensa, está submetido aos laços formados, que detém o poder de deixá-lo existir, e que, por sua vez, todo esse conjunto está submetido ao fator coercitivo da sociedade, que não deixa o ser-em-si e nem os laços formados se desenvolverem e fortalecerem de modo aleatório. Os conflitos dessas partes se cessam quando alguém cede mais ou menos espaço no campo, por exemplo, esquecer toda essa baboseira, fecha-se para o mundo e apenas viver na funcionalidade do seu objetivo, isso iria “superficializar” suas relações sociais e ser valorizado pela sociedade, ou ao contrário, entender que isso é importante e desvalorizar a ideologia opressora, sendo afetado pela sociedade e tendo como referência suas construções dos seus laços (e outras coisas) no mundo das ideias. Particularmente, leitor(a), tento acabar com esses antagonismos despertando nos meus próximos a capacidade analítica e a sensibilidade, pois, para mim, tendo essas ferramentas, é possível o indivíduo pensar em sua realidade de forma racional e sentir de maneira intensa os reflexos causados desses conflitos. O meu receio não é que todos tenham os mesmos sonhos, mas é que todos tenham seus sonhos presos a um fator, pois, a partir do momento que não posso ser livre no sonho, não posso afirmar que sou eu que estou sonhando. Em suma, quero deixar proposto um novo tipo de saber, que não seja baseada nas maneiras tradicionalistas de construção do pensamento, nem sujeito ao idealismo e nem no empirismo, mas que sejam fundamentados em novos e diferentes conceitos para a compreensão abrangente de toda a realidade social e existencial.

E com vocês, Raul Seixas!
        

sábado, 10 de março de 2012

Desfibrilador

Há uma pulsação fraca, seus lábios já estão secos, de olhos bem abertos e sem cor, sua pele está esbranquiçada, as veias que por elas corriam seus sentimentos, estão contraídas. Está frio aqui, não sinto mais o vento e nem a chuva, nem cheiros ou vapores, nem riso e nem choro. Por outro lado, estou correndo, ainda de olhos abertos, ofegante, desesperado, em uma pequena escuridão de proporções enormes, cheia de obstáculos, carrego comigo um desfibrilador de essência, para que quando me reencontrar, que volte a pulsar com toda a intensidade meus sentimentos, para que haja cor e brilho, inspirar morte, expirar vida.
Mas eu não posso fazer isso com meus olhos abertos, tenho que fechá-los para que eu possa sentir, a realidade concreta é dispersante no ar, não me vale de nada. O que eu construí ninguém pode vê-lo, toca-lo, oprimi-lo ou destruí-lo, somente senti-lo, e meu local de construção não é o campo real, é aonde você palpa todos seus sentimentos, é por onde correm todos os fluídos da sua essência, e nessa área que é tão frágil, construí os alicerces do meu ser, dos meus laços afetivos, de coisas extremamente fortes e duradouras. Acontece que a superestrutura está coibindo a infraestrutura, meus antagonismos não estão me sustentando, estou me digerindo aos poucos, o brilho não está tão forte, os conflitos estão diminuindo, estou me adequando ao meio.
Dentro da escuridão, vejo próximo de mim silhuetas grosseiras daquilo que não gostaria de me tornar, e longe, vejo vagalumes, todos dispersos, tentando me trazer alguma orientação, tentando iluminar aquilo que não precisava ser iluminado. Luto para fechar meus olhos, não desejo ver superficialidades e efemeridades, tudo se torna mais concreto e menos insensível. E por breves momentos que consigo fechá-los, sinto o toque em meus ombros, um abraço motivador, palavras gentis e seguras, consigo ver o que não é visto.



De olhos abertos, não vejo ninguém. Mas, se eu fechá-los, vê-los-ei com minha essência




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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Eu por eu mesmo

Dentro das primícias humanas, está o egoísmo, o sentimento instintivo de mantê-lo "confortável" ( isso depende de sua concepção de conforto). Visto como a parte maléfica e fétida do ser humano, é por muitas vezes mal incompreendida, pois, não há indivíduo que não fora corrompido pelo seu próprio mal. Tive que me ausentar da minha base emocional e sentir intensamente o quão egoísta somos. Arranquei-me todas as máscaras sociais, encarei-me no espelho, desfiz minhas mentiras e idealizações, e por fim, deixei fluir na minha essência essa putrefação, sem nenhum empecilho ou dosagem. Compartilhar era a ação mais inteligente a se fazer, acontece que só compartilho o pós-analisado, não há como compartilhar meus conflitos internos se nem mesmo eu conseguia adaptá-lo para que possa ser compreendido por palavras, a intensidade que senti esse egoísmo foi o suficiente para fissurar todas minhas ferramentas de controle emocional, já não agia com maturidade, e sendo assim, não conseguia isolar esse sentimento para que não atrapalhasse minha esfera real, esqueci-me das construções que fiz nas pessoas, não desejava compaixão e nem tampouco misericórdia de relações metafísicas, esse foi o único conflito que mantive sozinho até certo ponto. E porque não pude compartilhar esse conflito? Quais eram minhas justificativas para que saísse da minha estabilidade?  Mas porque permiti-se a isso? 
Atentar-me-ei a essas respostas, de modo que você leitor(a) entenda o egoísmo de maneira plurilateral, e tire suas conclusões após de ler, o seu julgamento ínfimo da dualidade "certo e errado" será desconsiderado pelas palavras que hão de vir, se for ofensivo demais, pare de ler, assim será preservado o seu egoísmo. Após a minha frustração (o que desencadeou esses fatos), mantive minhas ideologias vivas, estaria presente nos momentos importantes às pessoas que cativo, independentemente da situação que estiver. Acontece que estava lidando com o desconhecido, confiei na minha maturidade e mantive um nível aceitável no antagonismo sentimental que me encontrava, de fato, senti a felicidade alheia, um alívio e até mesmo um certo conforto em saber aquilo se traduzia em soluções de problemas e conquistas futuras, senti o abraço apertado e lágrimas de desesperançosos, tive uma euforia indireta. Mas nesse exato momento, acontece esse sentimento instintivo, sua tristeza e frustração é tão grande quanto à felicidade alheia, e por sermos egoístas, oferecemos nossa compaixão a quem está nessa situação, e o outro não consegue sentir a felicidade alheia por está ocupado demais sentindo suas dores. O antagonismo sufoca, e por esse motivo, isolei-me. Mantive-me por alguns dias sendo minha própria cela, estava me protegendo da realidade. Expressava egoísmo em não compartilhar, e as pessoas ao meu redor expressavam o de não compreender, a compaixão estava exalando nas suas intenções, a frustração estava nas minhas. Estávamos em um ciclo vicioso, ninguém entendia ou sentia de fato o sentimento alheio, e meu maior medo bateu-me a porta, eu realmente estava sozinho, isolado na minha esfera existencial, sufocado por não conseguir expressar, frustrado por não aceitar e compreender, e temeroso pela solidão. Foi o estopim da bolha existencial, já não sabia como agir com as pessoas, minhas ações foram se mecanizando, minha maturidade estava inútil, e ceguei-me, deixando o egoísmo corroer minhas ideias, a minha idealização (essa ação de "idealizar" é pegar os fragmentos de uma realidade [ou ela inteira, como foi no caso] e trazer para o campo existencial) que antes transmitia harmonia e gentileza, estava cheio de ódio e futilidade, idealizei cada ação das pessoas que cativo, como elas deveriam agir, o que falar, como se comportar, e isso foi alimentando o egoísmo. Quem sou eu para dizer isso? Não há como cobrar deles um posicionamento que seja compatível com que idealizo, porque afinal, cada um deles tem sua maneira distinta de lidar com a dor, seja a deles, seja a minha.
Já cansado, optei por manter-me afastado, e planejei toda minha trajetória dentro da solidão, estava tão cego, que realmente acreditei que podia lidar com isso, e que isso era altamente aceitável, traí minhas próprias ideologias. Foi quando pequenas ações foram tomando espaço nessa putrefação, ouvir um sermão que você já deu em alguém é algo estranho, ainda mais quando for a própria pessoa a quem deu. Isso foi um rompimento nessas emoções hostis, e mais tarde, uma conversa decisiva pois fim a essa podridão, e na mesma noite, externalizei da maneira que gostaria de fazer, permiti sentir e logo depois expurgar o egoísmo, naquele momento, estava sendo ensinado pelas pessoas que ensinei. Estava compreendido. Mas ainda, não respondi a terceira pergunta, porque afinal permiti-me a isso? Porque fui tão longe? Porque para que eu possa tomar o controle de mim, eu preciso do meu descontrole, viver de forma intensa, como optei, sem tolerar compaixão ou jogar minhas angústias em deuses, e assim, ver e sentir claramente uma pequena parte da capacidade do egoísmo humano.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O desvanecimento da quimera


Sabe, hoje tem alguma coisa que meus sentimentos desejam falar, mas creio eu que não consegui resolver essa incógnita ainda, pensei que fosse a saudade me sufocando, mas ela me parece sendo usada, partir então para meu sentimento de culpa, ele estava colocando a lenha na fogueira. Mas, e o fogo? Quem acendeu essa luz incômoda e latente? Solidão.
Talvez ela estivesse com frio, e como não é de receber visitas, me usou para se esquentar. Acordei pela manhã e fiquei até à tarde em minha cama, percebi que estava chovendo, fiquei um pouco imóvel, não queria me levantar nem tampouco ver o dia. Daí telefone toca, me levantei e atendi, uma conversa sem nexo, era somente algum ser inconveniente perturbando meu momento de quimera. Então, já levantado, e uma chuva levemente saudosista me dava às boas vindas à solidão. Completamente sozinho em casa, e cheio de pensamentos indesejados. Ah! Fui ver a chuva, tão efêmera e tão concreta ao mesmo tempo, decidi ficar um pouco nos fundos da casa, pegando alguns respingos da chuva, estava dando espaço a minha imaginação, estava mergulhado em mim mesmo. E nas minhas primeiras braçadas, encontrei minha mãe, lembrei-me de tempos tristes e de dores indescritíveis. Lembrei de um sorriso, de um abraço, lembrei-me de tudo que já havia passado, minhas conquistas, minhas derrotas, meus amigos, principalmente deles. Idealizei.
     Também me lembrei das mentiras e das hipocrisias que me cercam, um sentimento estranho acabara de florescer, o ódio, fiquei tão próximo dele que gargalhei de forma dolorosa, uma lágrima falsa pode machucar alguém, um sorriso falso pode machucar a si mesmo. Comecei a delirar por dentro, onde por fora era uma calmaria, internamente tornou-se insuportável, realmente estava sozinho, pensei em alguma ajuda, ou telefonema. Não conseguia pensar por mim mesmo, meus pensamentos trancafiados pela alienação já estavam jorrando por toda minha calmaria, imagens violentas, mortes, tristezas, tinha que dar um jeito nisso antes que perdesse a cabeça.
Alienei-me de volta, mantive o controle passivo de mim, assisti a um anime político e existencial, me transferi à personagem, analisando suas ações e lidando com os imprevistos. Ele era líder de uma resistência que lutava para a reconstrução do país conquistado por um império, mas sua vida pessoal estava em conflito. Ele conseguiu um grande poder, e com esse poder lutava por uma causa. Mas suas ações estavam entrando em contradição com sua ideologia, e afetava aqueles que ele amava. Suas ações não poderiam ser mais justificadas como “boas” ou “ruins”, ele realmente podia criar uma utopia, mas seus métodos eram tão desumanos quanto ao império que lutava. Individualização das ações, a diplomacia da falácia, as máscaras sociais que usava (e que nós usamos). Realmente estive na pele daquele personagem, pude esquecer meus problemas e senti os seus.
Após isso, ainda sentia que algo me incomodava e também não conseguir tirar absolutamente nada de concreto nesse conflito interno, é como se meus instintos apontassem para algo que está claro, mas eu não consigo ver. Se eu vejo, é porque talvez não o aceite como resposta. Culpar alguém? Culpar-me? Algum sentimento? Mas aí cheguei à conclusão, não foi a solidão que me deixou assim, ela desencadeou o que já estava contido em mim. O meu processo de alienação me assegura que eu não irei pensar, é assim que me defendo de mim, é assim que o capitalismo se defende. Creio eu que existencialismo e política estão diretamente ligados, assim como o Estado inibe a ação da sociedade civil através do controle dos meios de produção, da mídia e do consumo do entretenimento, realizo os mesmos processos para inibir minha essência. Quando reconhecemos a nós mesmos, sem precisar de uma sociedade para nos autoafirmar, talvez seja o momento de também nos reconhecer como seres políticos mesmo estando fora da política, então seremos capazes de construir utopias.