Ideias,
medos, abstracionismo, eloquência, epifania, morte, vida. Há tantos termos
profundos que estão endurecidos pela falta de prática e pela dificuldade de
praticá-los. Não apenas por questões materiais ou condicionamentos de vida, é
também por cansaço, por frustrações, por achar que a complexidade poderia ser
mais simples. E porque não? Simplificar a vida, as coisas, o movimento da
efemeridade! Ser mais simples. As coisas em si são simples, entre si são mais
complexas. E nessa área onde a complexidade e a simplicidade vão de encontro,
há o equilíbrio, a dança da dialética. Iremos sintetizar toda a vida a vida
toda, a tão idealística tese, a devastadora antítese e a realística síntese é a
metodologia que qualquer um usa para sentir-se mais seguro em relação ao que se
faz. Não é preciso ser um marxólogo para entender o conceito, sabemos muito bem
que a dúvida de qualquer coisa leva-nos a cogitar possíveis respostas, sendo
até cabível da dúvida não ter resposta e esse sistema nos indica intuitivamente
a fazer o uso da dialética. E bem, já que a dúvida pode nos levar a isso,
pergunto-lhe (e a mim também), o que será de nós se pararmos de procurar as
respostas das nossas dúvidas? A resposta já foi dada antes mesmo de se fazer a
pergunta. Endurecemos, simplificaremos, desvanecemos, morremos.
Estive
por bastante tempo encubado na realidade material, arranquei de mim a palavra
"sonhos" e a troquei por "objetivos", retirei a palavra
"escrever" por "dissertar", apunhalei com voracidade
qualquer ligação ao subjetivo, ao "não-útil", esqueci-me das minhas
velhas críticas ao sistema capitalista, e não só isso, como as distorci para
ficarem aceitáveis aos olhos de quem lê. Já chamei isso de maturidade o que
antes chamava de alienação, contive-me lúdico quando o meu desejo era de me
atirar sobre meus devaneios. Podei-me ao ponto de quase apagar minha
autenticidade e com ela apagar também todas as pessoas vinculadas. E pessoas
cujo meu apreço sentimental é elevadíssimo. E da sensibilidade
"imatura", surge algo totalmente contrário daquilo que imaginei (e
repudiei) — a racionalidade insensível. Dos sonhos que guardei, da
autenticidade e dos meus laços afetivos, joguei-los contra meus espinhos,
olhando cada um a sangrar e morrer. Essa minha forma racional assistiu o
agonizar da minha outra idealística que estava nua, e paralelamente, das outras
pessoas vinculadas a ela. Houve gritos, mas estava concentrado demais em outras
coisa para ouvi-los, houve lágrimas, mas não me comovi pois já estava
insensível demais. E depois disso, limpei-me de tal horror, como se nada
estivesse acontecido e voltei a exercer minhas funções.
Acorda-te!
Estais a apodrecer pela tua rotina, amordaçado pelo teu salário, ferido por
tuas frustrações. Sucumbi-te-rá a morte em vida, a materialidade irá forçar-te
a limitar tua consciência. Não sejas tu a oferenda do vosso sacrifício.
Retendo-me
um pouco da continuidade desse texto, devo admitir uma exacerbada semelhança
entre todos os outros que já escrevi. Mas afinal, se há uma repetição de ideias
é porque há repetição de incômodos e ainda, há o mesmo processo de
"resolução" do problema. Óbvio? Talvez para quem lê. E nesse exato
momento, creio que há uma limitação dentro das minhas perspectivas abstratas
por elas estarem nas mesmas condições, tão enfadonhas e mesquinhas. Tcharam!
Temos uma maiêutica aqui, aplausos para rapaz! *clap clap*, entretanto, ainda estou
no mesmo processo, nas mesmas condições e uma tentativa de resgatar as mesmas
perspectivas. Usar de recursos textuais como figura de linguagem, erudição,
dramaticidade, demagogia e principalmente da metalinguagem fazem parte do
movimento dual de contenção e exposição sentimental. É, estou estagnado.
Entretanto, nesse leve resgate ao passado, faz-me lembrar da revolta e do meu
posicionamento oposicionista com o mundo, dando-me combustível para romper com
a mesmice. Mas como romper? Meus laços foram desgastados, meus medos ainda
estão a espreita do meu surto e minhas ferramentas intelectivas são limitadas.
A resposta é — intensidade.
O modo nietzschiano
de ser, o modo cristão de ser, o modo ateístico
de ser, o modo de eu ser, o modo de nós sermos, o modo do ser
ser. A minha dificuldade e acredito que seja de muitas pessoas é a
distância entre o que falamos e o que somos. Aristóteles fala que deve-se levar
as ideias do céu para a terra, Marx diz que as ideias devem partir da terra
para o céu. E bem, eu falo que foda-se essa porra aí porque as ideias são uma
das poucas coisas que transitam entre o abstrato e concreto, é o ligante entre
a o pensar, fazer e ser. Ideias que descem os céus geram conflitos desgastantes
com a realidade material, assim como ideias que partem da terra não resumem
toda a consciência do ser por não possuírem subjetividade. Em outras palavras,
é suicídio uma total racionalização ou idealização das ideias pois elas dão
ligas ao ser que não é abstrato e nem concreto, ele apenas é, e
sua manutenção vem pelas análises e ferramentas (tanto no campo material como
ideal) possibilitando seu desenvolvimento. Antes de fechar a síntese, o que
seria exatamente "ferramentas e "desenvolver o ser"? É
ter a práxis como ferramenta e sonho-objetivo como desenvolvimento, é racionalizar
o poema e "poematizar" a racionalização, é ter condições materiais e
intelectivas para desenvolver o próprio ser!
Dessarte, que a teimosia impere! Ter uma
racionalidade sentimental e manter um
pouco a essência construída do passado para a próxima seja mais abrangente
sobre o ser e do mundo, a fim de que não cometa suicídio ou o mundo lhe
mate. Não se alienar as condições de vida e nem deixar de exercer a
subjetividade. Procurar viver as palavras as quais deseja viver. Mas bem, são
sugestões pessoais minhas limitadas pelo texto e experiências empíricas. O que
é referente a você, leitor(a), é meu desejo de despertar em você a inquietação.
Vá e faça também a sua dialética!