quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Covardia

      O ser humano é covarde por natureza, escolhe sempre o caminho mais fácil, procura pensar só no seu bem, não pensa no sentimento alheio, e quando pensa não tem coragem de fazer o que é certo. Iludi-se e ilude os outros, seus sentidos estão todos enganados. O instinto de autodefesa mais repugnante, digno de desonra. e inglório. Sua força mantém de pé os fracos, para que possam se manter firme suas ilusões. Dissimulam sentimentos, constrói para os outros uma imagem idealizada, e dentro de si corrói as dores de sua covardia, pois o covarde sabe o que ele é, só não tem coragem de assumir isso. Se torna aversivo as soluções que lhe causarem dores, se esconde atrás de máscaras, se alimenta da própria mentira, e o pior de tudo, não acha que fere alguém todos os dias.
      Eu assumo, eu sou covarde. Fujo da minha realidade, das pessoas e de tudo que for inconveniente para mim. Faço-me em minha ilusão, sou a personificação da minha covardia. Sou o incapaz de tomar atitudes, e de pensar no sentimento alheio, sou o que deixa à desejar de mim aquilo que não posso realizar. Sou o amor irrecíproco, sou a sombra de alguém, sou um rato correndo ao esgoto procurando se esconder. Eu sou o pior covarde, pois sei a solução. Mas prefiro fugir das possíveis dores, e deixar que o tempo resolva as coisas. O tempo não tem discernimento, ele pode passar e resolver, ou pode permanecer e ficar alimentando os problemas. Foi aí meu erro, deixar tempo decidir ao sentimento. Não, eu não queria isso.
      Não vale a pena amar um covarde, ele não será capaz de assumir o próprio amor, mesmo que ele ame. Ele sempre se esquivará de todas suas acusações e declarações. Ficará imóvel quando jogá-lo na cara uma verdade, e tentará se esconder em um riso maquiado. Ficará na espreita de uma iniciativa de outro, e na insensibilidade com o próximo. Ele será asqueroso, irá fazer tudo o que lhe for conveniente e depois não irá assumir responsabilidade alguma. Não será capaz de ser honrável, nem tampouco coerente com suas ações. Sofrerás horrores, por alguém que não merece ser amado por ninguém.
       Por fim, deixe-o partir para sua covardia. Ele terá que sofrer para sentir-se necessitado de coragem, sua ilusão não se sustenta a vida toda, a luz cessará as sombras e as pessoas irão embora. E quando o covarde, vendo-se incapaz de ser esconder, não terá escolha, a não ser aceitar sua vitória dolorosa. E em paralelo, será tarde demais para se tomar coragem, pois onde ele devia ter tomado, a oportunidade já se passara. O covarde só deixará de ser um, não quando criar coragem, mas quando for capaz de assumir sua covardia e lutar contra ela.