sábado, 21 de setembro de 2013

O mimimi e a dialética

Ideias, medos, abstracionismo, eloquência, epifania, morte, vida. Há tantos termos profundos que estão endurecidos pela falta de prática e pela dificuldade de praticá-los. Não apenas por questões materiais ou condicionamentos de vida, é também por cansaço, por frustrações, por achar que a complexidade poderia ser mais simples. E porque não? Simplificar a vida, as coisas, o movimento da efemeridade! Ser mais simples. As coisas em si são simples, entre si são mais complexas. E nessa área onde a complexidade e a simplicidade vão de encontro, há o equilíbrio, a dança da dialética. Iremos sintetizar toda a vida a vida toda, a tão idealística tese, a devastadora antítese e a realística síntese é a metodologia que qualquer um usa para sentir-se mais seguro em relação ao que se faz. Não é preciso ser um marxólogo para entender o conceito, sabemos muito bem que a dúvida de qualquer coisa leva-nos a cogitar possíveis respostas, sendo até cabível da dúvida não ter resposta e esse sistema nos indica intuitivamente a fazer o uso da dialética. E bem, já que a dúvida pode nos levar a isso, pergunto-lhe (e a mim também), o que será de nós se pararmos de procurar as respostas das nossas dúvidas? A resposta já foi dada antes mesmo de se fazer a pergunta. Endurecemos, simplificaremos, desvanecemos, morremos.
Estive por bastante tempo encubado na realidade material, arranquei de mim a palavra "sonhos" e a troquei por "objetivos", retirei a palavra "escrever" por "dissertar", apunhalei com voracidade qualquer ligação ao subjetivo, ao "não-útil", esqueci-me das minhas velhas críticas ao sistema capitalista, e não só isso, como as distorci para ficarem aceitáveis aos olhos de quem lê. Já chamei isso de maturidade o que antes chamava de alienação, contive-me lúdico quando o meu desejo era de me atirar sobre meus devaneios. Podei-me ao ponto de quase apagar minha autenticidade e com ela apagar também todas as pessoas vinculadas. E pessoas cujo meu apreço sentimental é elevadíssimo. E da sensibilidade "imatura", surge algo totalmente contrário daquilo que imaginei (e repudiei) — a racionalidade insensível. Dos sonhos que guardei, da autenticidade e dos meus laços afetivos, joguei-los contra meus espinhos, olhando cada um a sangrar e morrer. Essa minha forma racional assistiu o agonizar da minha outra idealística que estava nua, e paralelamente, das outras pessoas vinculadas a ela. Houve gritos, mas estava concentrado demais em outras coisa para ouvi-los, houve lágrimas, mas não me comovi pois já estava insensível demais. E depois disso, limpei-me de tal horror, como se nada estivesse acontecido e voltei a exercer minhas funções.
Acorda-te! Estais a apodrecer pela tua rotina, amordaçado pelo teu salário, ferido por tuas frustrações. Sucumbi-te-rá a morte em vida, a materialidade irá forçar-te a limitar tua consciência. Não sejas tu a oferenda do vosso sacrifício.
Retendo-me um pouco da continuidade desse texto, devo admitir uma exacerbada semelhança entre todos os outros que já escrevi. Mas afinal, se há uma repetição de ideias é porque há repetição de incômodos e ainda, há o mesmo processo de "resolução" do problema. Óbvio? Talvez para quem lê. E nesse exato momento, creio que há uma limitação dentro das minhas perspectivas abstratas por elas estarem nas mesmas condições, tão enfadonhas e mesquinhas. Tcharam! Temos uma maiêutica aqui, aplausos para rapaz! *clap clap*, entretanto, ainda estou no mesmo processo, nas mesmas condições e uma tentativa de resgatar as mesmas perspectivas. Usar de recursos textuais como figura de linguagem, erudição, dramaticidade, demagogia e principalmente da metalinguagem fazem parte do movimento dual de contenção e exposição sentimental. É, estou estagnado. Entretanto, nesse leve resgate ao passado, faz-me lembrar da revolta e do meu posicionamento oposicionista com o mundo, dando-me combustível para romper com a mesmice. Mas como romper? Meus laços foram desgastados, meus medos ainda estão a espreita do meu surto e minhas ferramentas intelectivas são limitadas. A resposta é — intensidade. 
O modo nietzschiano de ser, o modo cristão de ser, o modo ateístico de ser, o modo de eu ser, o modo de nós sermos, o modo do ser ser. A minha dificuldade e acredito que seja de muitas pessoas é a distância entre o que falamos e o que somos. Aristóteles fala que deve-se levar as ideias do céu para a terra, Marx diz que as ideias devem partir da terra para o céu. E bem, eu falo que foda-se essa porra aí porque as ideias são uma das poucas coisas que transitam entre o abstrato e concreto, é o ligante entre a o pensar, fazer e ser. Ideias que descem os céus geram conflitos desgastantes com a realidade material, assim como ideias que partem da terra não resumem toda a consciência do ser por não possuírem subjetividade. Em outras palavras, é suicídio uma total racionalização ou idealização das ideias pois elas dão ligas ao ser que não é abstrato e nem concreto, ele apenas é, e sua manutenção vem pelas análises e ferramentas (tanto no campo material como ideal) possibilitando seu desenvolvimento. Antes de fechar a síntese, o que seria exatamente "ferramentas e "desenvolver o ser"? É ter a práxis como ferramenta e sonho-objetivo como desenvolvimento, é racionalizar o poema e "poematizar" a racionalização, é ter condições materiais e intelectivas para desenvolver o próprio ser!

Dessarte, que a teimosia impere! Ter uma racionalidade sentimental e  manter um pouco a essência construída do passado para a próxima seja mais abrangente sobre o ser e do mundo, a fim de que não cometa suicídio ou o mundo lhe mate. Não se alienar as condições de vida e nem deixar de exercer a subjetividade. Procurar viver as palavras as quais deseja viver. Mas bem, são sugestões pessoais minhas limitadas pelo texto e experiências empíricas. O que é referente a você, leitor(a), é meu desejo de despertar em você a inquietação. Vá e faça também a sua dialética!

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