sábado, 10 de março de 2012

Desfibrilador

Há uma pulsação fraca, seus lábios já estão secos, de olhos bem abertos e sem cor, sua pele está esbranquiçada, as veias que por elas corriam seus sentimentos, estão contraídas. Está frio aqui, não sinto mais o vento e nem a chuva, nem cheiros ou vapores, nem riso e nem choro. Por outro lado, estou correndo, ainda de olhos abertos, ofegante, desesperado, em uma pequena escuridão de proporções enormes, cheia de obstáculos, carrego comigo um desfibrilador de essência, para que quando me reencontrar, que volte a pulsar com toda a intensidade meus sentimentos, para que haja cor e brilho, inspirar morte, expirar vida.
Mas eu não posso fazer isso com meus olhos abertos, tenho que fechá-los para que eu possa sentir, a realidade concreta é dispersante no ar, não me vale de nada. O que eu construí ninguém pode vê-lo, toca-lo, oprimi-lo ou destruí-lo, somente senti-lo, e meu local de construção não é o campo real, é aonde você palpa todos seus sentimentos, é por onde correm todos os fluídos da sua essência, e nessa área que é tão frágil, construí os alicerces do meu ser, dos meus laços afetivos, de coisas extremamente fortes e duradouras. Acontece que a superestrutura está coibindo a infraestrutura, meus antagonismos não estão me sustentando, estou me digerindo aos poucos, o brilho não está tão forte, os conflitos estão diminuindo, estou me adequando ao meio.
Dentro da escuridão, vejo próximo de mim silhuetas grosseiras daquilo que não gostaria de me tornar, e longe, vejo vagalumes, todos dispersos, tentando me trazer alguma orientação, tentando iluminar aquilo que não precisava ser iluminado. Luto para fechar meus olhos, não desejo ver superficialidades e efemeridades, tudo se torna mais concreto e menos insensível. E por breves momentos que consigo fechá-los, sinto o toque em meus ombros, um abraço motivador, palavras gentis e seguras, consigo ver o que não é visto.



De olhos abertos, não vejo ninguém. Mas, se eu fechá-los, vê-los-ei com minha essência




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